Se você já ouviu falar sobre FIDCs, mas ainda não entende exatamente como eles funcionam, não se preocupe. Vamos explicar de maneira simples como essa modalidade de investimento pode ser uma alternativa interessante para quem busca diversificar a carteira com investimentos de renda fixa que oferecem um bom potencial de retorno.
Um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) compra o direito de receber créditos presentes e futuros, ou seja, valores que uma pessoa ou empresa tem a receber e o oferece, em troca de um pagamento antecipado. Esse é um tipo de operação bastante comum no mercado financeiro, e os FIDCs têm crescido bastante no Brasil desde sua criação em 2001. Vamos entender melhor como eles funcionam e o que isso significa para o investidor.
O Que é Um FIDC?
FIDC é a sigla para Fundo de Investimento em Direitos Creditórios. Em termos simples, trata-se de um fundo que compra o direito de receber um pagamento presente e futuro que uma pessoa ou empresa tem a receber, como vendas a prazo ou parcelas de cartão de crédito.
Por exemplo, imagine que uma empresa vendeu seus produtos a prazo e tem a receber o valor dessas vendas nos próximos meses. Em vez de esperar esse tempo, ela pode vender esses direitos ao FIDC e receber uma parte desse valor imediatamente. O FIDC, por sua vez, vai receber os pagamentos presentes e futuros dos compradores na medida em que o tempo passa. Isso funciona porque o fundo compra esses créditos com um desconto, garantindo uma margem de lucro.
Essa operação faz do FIDC uma modalidade de renda fixa, pois o fundo adquire um fluxo de recebíveis presentes e futuros, por um preço descontado conhecido. Entretanto, a mensuração do retorno de cada operação pode variar, conforme o risco dos créditos adquiridos, tornando essa modalidade de investimento mais complexa, porém potencialmente mais lucrativa em relação a outros investimentos de renda fixa, como títulos públicos.
Os FIDCs foram autorizados no Brasil pela Resolução nº 2.907/2001 do Conselho Monetário Nacional (CMN) e atualmente são regulamentados pela Resolução CVM nº 175/22. Até 2022 apenas investidores qualificados (normalmente com pelo menos R$ 1 milhão em investimentos financeiros) poderiam investir em FIDCs, sendo que os FIDCs não padronizados (conforme explicado abaixo) seriam restritos a investidores profissionais (normalmente com pelo menos R$ 10 milhões em investimentos financeiros). Desde janeiro de 2023, os FIDCs podem ser investidos até por investidores em geral, observado alguns casos específicos que foram mantidos para os investidores qualificados e profissionais. Esses fundos podem ser constituídos na forma de condomínios abertos (aqueles que o valor investido pode ser resgatado a qualquer momento) ou fechados (aqueles que o valor investido só pode ser resgato em determinadas períodos), dependendo do objetivo, público-alvo e características do fundo.
Para manter sua classificação, os FIDCs devem investir em até 180 dias da sua constituição mais de 50% do patrimônio líquido em direitos creditórios, sendo que se o FIDC investir em cotas de outros FIDCs esse percentual deverá ser superior a 67%, enquanto o restante pode ser alocado em títulos de renda fixa com liquidez.
Tipos de FIDCs
Existem vários tipos de FIDCs, e a diferença entre eles está nos tipos de direitos creditórios que o fundo adquire. Cada um desses direitos tem origem em diferentes setores da economia, o que proporciona ao investidor várias opções de diversificação. Abaixo estão indicados os mais conhecidos:
1. FIDC de Fomento Mercantil: Esses fundos investem em direitos creditórios como duplicatas, notas promissórias e cheques. Esses créditos geralmente vêm de empresas de factoring ou de cooperativas de crédito, que compram os recebíveis de empresas menores, especialmente do comércio.
2. FIDC Financeiro: Aqui, os direitos adquiridos são contratos financeiros, como crédito consignado, crédito imobiliário e financiamento de veículos. Por exemplo, o FIDC FEGIK FOZ é um fundo dessa categoria que investe em direitos creditórios do mercado imobiliário, incluindo CCBs (Cédulas de Crédito Bancário), CCIs (Cédulas de Crédito Imobiliário) e CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários). Esses tipos de ativos estão diretamente ligados ao financiamento de imóveis, o que oferece ao fundo uma oportunidade de retorno baseado no crescimento do setor imobiliário.
3. FIDC Agro, Indústria e Comércio: Nessa categoria, o fundo adquire créditos originados em setores amplos como agronegócio, infraestrutura e comércio. Esses fundos são bastante diversificados e podem investir em recebíveis de diferentes portes.
Além disso, os FIDCs podem investir tanto em recebíveis performados (aqueles em que a venda ou prestação de serviço já aconteceu) quanto em não performados (aqueles que ainda vão acontecer). Um exemplo de um direito não performado seria o recebível de uma empresa aérea pelas passagens que ainda irá vender no futuro.
Vantagens de Investir em FIDCs
Existem várias razões pelas quais um investidor pode considerar investir em um FIDC, especialmente se estiver buscando diversificar seus investimentos de renda fixa:
– Diversificação de risco: Um FIDC pode comprar recebíveis de diferentes setores, devedores e prazos, o que distribui o risco em várias operações. Se uma parte dos créditos não for paga, o fundo ainda tem outros recebíveis para gerar retorno.
– Potencial de retorno: Como os FIDCs compram créditos com desconto, o retorno para o investidor pode ser interessante, especialmente em fundos que lidam com créditos de maior risco. Fundos que investem em créditos não performados ou com devedores de maior risco costumam oferecer retornos mais elevados.
– Flexibilidade: Os FIDCs permitem uma adaptação ao perfil de risco do investidor. Fundos podem ser estruturados com classes de cotas diferentes, como cotas sênior (menos arriscadas e com menor retorno, porém prioritário em relação às demais cotas) e cotas subordinadas (mais arriscadas e com maior potencial de retorno, após o pagamento das cotas prioritárias). Isso oferece opções tanto para investidores mais conservadores quanto para aqueles que buscam maior rentabilidade.
Quais os Riscos de Investir em FIDCs?
Embora os FIDCs ofereçam boas oportunidades, é importante entender os riscos envolvidos:
– Risco de crédito: O maior risco de um FIDC está na inadimplência dos devedores. Se o fundo comprou direitos creditórios de uma empresa que não paga suas dívidas, o retorno esperado será prejudicado. O gestor do fundo precisa avaliar cuidadosamente a qualidade dos créditos adquiridos.
– Risco de liquidez: A liquidez do FIDC depende do tipo de condomínio que ele é. Fundos de condomínio fechado não permitem resgates até o fim do prazo estipulado, enquanto fundos de condomínio aberto permitem resgates a qualquer momento, mas com algumas regras.
– Risco de pré-pagamento: Em alguns casos, os devedores podem pagar suas dívidas antecipadamente. Embora isso pareça positivo, pode representar um desafio para o fundo, que terá que reinvestir o dinheiro recebido antes do esperado, possivelmente em condições de mercado menos favoráveis.
Além desses, é importante que o investidor saiba que existem outros riscos associados aos FIDCs, como o risco de mercado e o risco regulatório. A natureza específica de cada fundo pode expor o investidor a diferentes tipos de riscos, portanto, é essencial avaliar bem as características do fundo antes de investir.
Para Quem é Indicado?
Os FIDCs são indicados para investidores que buscam diversificar sua carteira com investimentos em renda fixa, mas que estejam dispostos a lidar com maior complexidade e risco. Embora essa modalidade possa oferecer retornos atrativos, é essencial entender os tipos de créditos em que o fundo investe e os riscos associados.
É recomendável estudar bem o regulamento de cada fundo para garantir que ele se alinha ao seu perfil de investidor, principalmente considerando os prazos, liquidez e composição da carteira.
Conclusão
Os FIDCs podem ser uma excelente oportunidade de diversificação para quem já tem alguma experiência em investimentos e deseja explorar opções com maior potencial de retorno dentro da renda fixa. Por meio da compra de direitos creditórios, esses fundos permitem acessar uma ampla variedade de setores da economia, com diferentes níveis de risco e retorno.
Se você está interessado em aumentar sua diversificação, estudar o funcionamento dos FIDCs pode ser um bom começo. Com o crescimento dessa modalidade no Brasil, as opções são cada vez mais variadas, e pode haver um FIDC ideal para seu perfil e seus objetivos financeiros. Continue explorando e aprendendo mais sobre o mercado de investimentos!